segunda-feira, 4 de julho de 2011

o paraíso de Kafka



Não é preciso ser especialista em Kafka para perceber que a literatura era para ele um refúgio, o seu paraíso secreto. Nesse mundo, onde ele era senhor, havia muitas possibilidades de olhar e revelar o que via à sua volta. Assim, Kafka cultivou memórias, silêncios, dúvidas, insinuações, certezas, métodos e solidão para caminhar por sua obra. Da vida íntima, familiar, cotidiana, fez um arcabouço para estruturar o que viria a ser uma das maiores obras sobre a condição humana e sobre o espírito da sua época. No entanto, a obra continua atual; os tempos presentes ainda têm muito que beber da obra de Kafka para se hidratar, como afinal acontece com qualquer grande obra (ela mantem ecos que alcançam séculos...).

Seria inoportuno traçar análises, apontar características, singularidades da imensa obra kafkiana, mesmo porque não me sinto literariamente autorizada a fazer tal exame. Mas vale anotar meus achados, enquanto leitora e fã, nesse paraíso: um dos pontos que mais me impressionaram quando me deparei com os primeiros escritos de Franz Kafka foi o domínio da imagem onírica. Criar cenas que lembram nossos sonhos poderia ser um recurso simples, mas transportar esse recurso para o corpo do texto, para a narrativa, sem se perder do propósito realista (como a mim parece ser o propósito dele)... esse feito coube a Kafka.

Outro ponto igualmente impressionante é o seu domínio sobre a ironia e o humor. Sobre isso aliás, poucos foram os comentários que já li. Apesar disso, o humor kafkiano é para mim um de seus maiores atrativos; um humor seco, evasivo, de quem não quer comprometer a seriedade do que está sendo contado, porém, acaba colaborando para o seu enriquecimento.

Enfim, trata-se de estilo, essa linguagem particular que alguns mestres criam dentro de outra linguagem e ainda assim, conseguem se comunicar com todas as línguas.

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