quarta-feira, 17 de outubro de 2012

OLHO DE VIDRO - parte VIII


Segue aqui o comentário de mais um capítulo da parte TELA do livro OLHO DE VIDRO, de Márcia Tiburi. O capítulo intitula-se: “Medusa e máscara”.
Márcia acentua sua argumentação sobre a morte do sujeito frente à televisão. Aqui ela está tratando da busca de um sujeito do conhecimento. O sujeito do conhecimento quer captar o real, mas ao olhar para a tela da TV na ânsia de ver o real depara-se com uma máscara, a prótese do conhecer. Existe algo atrás da tela que é o objeto da busca do sujeito, ou telespectador mascarado de sujeito. Existe uma ilusão de que o que há por trás da tela seja o real. Contudo a tela, a superfície que separa o espectador do objeto a ser visto, possui o domínio sobre o objeto. A televisão aqui possui o poder da Medusa mitológica, que ao cruzar seu olhar com o espectador, o transforma em pedra. Essa pedra, agora podemos entendê-la como a própria audiência coletiva. “Se não há mais algo como sensibilidade é porque não se pode mais falar de um corpo no sentido em que conhecemos até aqui e se não há capacidade de reflexão pela consciência crítica  não há mais sujeito” (pg 150).
Perseu, o herói que vai enfrentar e vencer o poder de Medusa, só alcança a vitória porque também se faz máscara. Seu sucesso consiste na tarefa de evitar cruzar o olhar com o monstro. Em outras palavras, ele não pode deixar que seus olhos sejam aprisionados.
Márcia demonstra que, no entanto, as imagens que nos cegam – ou nos transformam em pedra – são parte de nós, já que foram feitas para nós, “já que de nós surgiram”. A audiência coletiva se conforma com um olhar coletivo da televisão sobre os telespectadores. Ela nos olha como um mesmo e único espectador; esse olhar tende, assim, a ser autoritário. Está encerrado o espaço para a ação cognitiva do indivíduo. A pele-tela que nos separa do objeto se encarrega de surrupiar a sensibilidade e banir o crítico da sala de TV. Mas como isso acontece? O texto nos diz da simetria entre a imagem televisiva (que deve agradar o espectador) e a servidão do espectador ao aparelho. Aqui compreendo que a Medusa petrifica quem a olha porque não quer ser vista. A Medusa-Televisão, por sua vez, petrifica porque - seguindo a reflexão de Márcia (apoiada por vasta bibliografia) - estabelece-se como deus, “exigência de adesão”. Esse novo deus dita a simulação do real (máscara) àqueles que se sentam diante da TV como um rito para conquistar certezas. O sujeito não apenas morre como se torna objeto do olhar televisivo.

Encerro este comentário  observando que, na teledramaturgia brasileira, assim como em programas variados, raramente se vê a presença de um aparelho de TV no cenário, a não ser quando num dado momento da narrativa faz-se necessário a presença dele. Mas de modo geral, mesmo num cenário que represente uma casa (de qualquer classe), nunca se vê um aparelho de TV presente, contrariando ou mascarando a realidade, visto que esse eletrodoméstico é comum em grande parte das casas.