segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Moacyr Scliar

Um domingo de despedida...
27 de fevereiro, perdemos Moacyr Scliar, que deixa como herança para a Literatura e para a cultura uma vasta obra. Seu "Exército de um homem só" é um dos meus preferidos.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

tirado da Revista Época virtual

Traficantes na aula de matemática

Zaroio, Chaveta e Pipoco saem da internet e arrumam problemas para um professor de escola pública de Santos
por Luiz Maklouf Carvalho

PRÓS E CONTRAAlunos pedem a volta do professor suspenso. A mãe que reclamou do teste com referência a traficantes. A questão toda está mal resolvida.

“Vem armado para a escola?”, “A que facção pertence?”.
Essas perguntas estão no cabeçalho de uma prova de matemática ficcional que circula na internet pelo menos desde 2007. É uma sátira bem-humorada – humor negro, bem entendido – tanto à criminalidade do Rio de Janeiro como à política que aboliu a reprovação, o que em tese obrigaria os professores a ser mais criativos, para chamar a atenção dos alunos. Em suas dez perguntas, a prova aborda tráfico e consumo de drogas, prostituição, assassinato por encomenda e roubo de veículos.
Exemplo: “Zaroio tem um fuzil AK-47 com carregador de 80 balas. Em cada rajada ele gasta 13 balas. Quantas rajadas poderá disparar?”.

No dia 14, uma segunda-feira, Dara, uma garota santista de 14 anos, viu essas e outras perguntas ser desenhadas na lousa de sua classe pelo tranquilo e circunspecto professor de matemática Lívio Celso Pini. Ele tem 55 anos, três filhos já formados, quatro cursos universitários. “Ele disse que era uma prova para resolver durante a aula e escreveu as perguntas no quadro, sem outra explicação”, disse Samuel Evangelista de Campos Oliveira, de 16 anos, um dos 40 alunos que assistiam à aula. Oliveira contou que as perguntas não lhe provocaram reação maior. “Tudo isso é da nossa realidade, está na internet, no rap, nos videogames. Eu tratei foi de resolver os exercícios.” Achou mais difícil, matematicamente falando, a quinta questão: “Chaveta recebe R$ 500,00 por BMW roubado, R$ 125,00 por carro japonês e R$ 250,00 por 4x4. Como já puxou dois BMW e três 4x4, quantos carros japoneses terá que roubar para receber R$ 2.000?”.

Dara não conseguiu resolver todas as questões. Foi a única da classe a levar o teste para casa. “Esse professor está ficando louco”, disse a mãe da garota, a manicure Fabiana Aparecida de Albuquerque, quando a filha lhe pediu ajuda para responder aos problemas. “Louco e irresponsável”, afirmou seu marido, Jaibe da Silva, padrasto de Dara. Silva é eletricista de carros. Eles moram, com uma pequenina de 5 anos, numa casa simples no bairro de Vila Progresso, um dos mais altos de Santos.

No dia seguinte, Jaibe e Fabiana foram à escola. Reclamaram com a diretora, Madalena Serralva. Ela chamou o professor Pini e pediu que se explicasse. “Ele só disse que não tinha a intenção de criar problema”, diz Fabiana. Não satisfeitos, os dois levaram o caso, e a folha do caderno de Dara, à Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise). Quando o caso veio a público, Pini pediu licença médica da escola. A Secretaria Estadual de Educação, que não quer falar sobre o assunto, o afastou por 120 dias.
Na quarta-feira passada, uma semana depois de tomar o susto, Fabiana ainda estava aborrecida com o professor. “O que ele fez é muito negativo, muito errado”, disse, na porta de sua casa. “Ela vai a uma escola pública para aprender, e recebe uma aula de crime. Tem absurdo maior? Ele faria isso se fosse uma escola particular?”

O titular da Dise é o sisudo delegado Francisco Garrido Fernandes, “uma mistura de índio com espanhol”, como ele próprio se define. Tem 52 anos e 33 de polícia. No ano passado, sua Dise apreendeu, na Baixada Santista, 1,7 tonelada de maconha, 15 quilos de cocaína e 4 quilos de crack. Parte dessa droga foi apreendida nos morros de Santos, inclusive no São Bento, onde fica a escola do professor Pini. “Estou averiguando se o caso se enquadra no Artigo 287 do Código Penal, apologia ao crime”, disse o delegado.

“O tráfico faz parte da realidade dos alunos”, afirmou o professor de geografia Luciano Silva Castelão, da mesma escola.
Ele contou que há dois casos recentes de alunos detidos por envolvimento com drogas. “O Lívio só quis trazer para a escola uma discussão crítica sobre a realidade que os alunos já vivem”, disse Castelão. “É o método do Paulo Freire.” Castelão usaria aquelas perguntas para dar uma aula? “Talvez. Mas elas caíram como uma luva na disciplina geografia do crime, que faz parte da grade da Secretaria Estadual de Educação.”
Pini conversou a respeito, antes do teste, com ele, com a diretoria ou com qualquer outro docente? “Não”, afirma. “Ninguém sabia que ele ia fazer isso. E nem ele próprio imaginou o tamanho da encrenca. Ficou todo vermelho, com hipertensão, no dia em que os pais da menina vieram aqui. E se desculpou com a turma pelo transtorno.”
Dara depôs na terça-feira. Na quarta-feira, foi a vez do professor Pini. Ele chegou com o advogado Thiago Serralva Huber, de 24 anos, parente da diretora da escola (não quis declarar em que grau). Não quis dar entrevista nem ser fotografado. “Ele tem medo de que esse episódio manche toda uma longa carreira no magistério”, diz o advogado. Pini afirmou ao delegado que passou aquele teste, copiado da internet, com o objetivo de “despertar os alunos para a questão da criminalidade”. Falou, ainda, para a cara impassível do delegado que aquele teste era apenas o início de “uma semana de debates sobre aquelas questões”. A diretora Madalena Serralva, a primeira a depor, disse que em nenhum momento o professor expôs a ela suas intenções pedagógicas.
Joyce Silva, de 15 anos, outra colega de Dara, disse que ele não falou sobre debate quando passou as questões no quadro-negro.
Das dez perguntas que estão na internet – o que também não informou aos alunos –, Pini emprestou seis, com pontuais modificações. “Teorias educacionais modernas dizem que se deve aproximar dos alunos o conteúdo da realidade – e isso vale, inclusive, para a matemática”, diz a professora Ângela Soligo, da Universidade de Campinas (Unicamp), doutora em psicologia da educação. “Mas é preciso tomar cuidado, porque os conteúdos não são neutros. Nesse caso, pode ter havido o risco de tornar natural, para os alunos, a realidade criminosa que as perguntas contêm, como se ela fosse válida e aceitável.” Questões dessa complexidade, segundo a professora Soligo, devem passar, antes, por uma discussão na coordenação pedagógica, na direção da escola e até entre os pais. Mas não houve crime, na opinião dela, porque a formulação das perguntas não implica apologia.
No final da manhã da quarta-feira passada, mesmo dia em que o professor Pini iria depor, cerca de 100 alunos da escola alvoroçaram a pracinha em frente, no Morro São Bento, com uma manifestação favorável à volta do professor. Ela foi convocada pelo Twitter do aluno Davidson Welber Rocha, de 17 anos, do 2º ano do ensino médio, e teve apoio da diretora e dos professores. Nas contas do advogado de defesa, “400 alunos” participaram da manifestação. Um dos cartazes dizia: “O professor Lívio nos trouxe a realidade... E a realidade é que perdemos um ótimo professor”. Em outro: “Não se jogam no lixo anos de trabalho por uma aula mal interpretada”. A única a discursar, apelando para não haver tumulto, foi a mãe de um aluno de Pini, Sandra Cristina Ferreira. “Ele é um excelente professor e tem de voltar”, disse.
Dara estava na escola naquele dia, mas voltou para casa antes da manifestação. Sua mãe disse que ela está sendo hostilizada. “Metade da escola não está nem falando com ela.”

palavras minhas: Que outros professores como este, Lívio Pini, brotem por aí.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

"Tantas palavras"

COLETÂNEA "TANTAS PALAVRAS..."
O que é?
Uma coletânea de textos de autores diversos, a partir dos gêneros contos e crônicas, com temática livre.
Quem pode participar?
Qualquer escritor, quer tenha ou não outros livros publicados. Aliás, a coletânea cumpre dois objetivos: (1º) divulgar textos literários de qualidade na forma impressa e (2º) oportunizar àqueles escritores que não têm condições de publicar uma obra solo, mas que querem ver seus textos impressos em forma de livro.
Qual o formato dos textos?
Os textos devem ser crônicas ou contos (em prosa, portanto), entre 2000 e 2500 caracteres, já contando com espaços (é preciso que se respeite esse número), em fonte Times New Roman, 12. Breve rodapé com currículo do escritor (máximo três linhas, sem foto).
Qual o valor do investimento?
Cada escritor poderá publicar um texto, no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), com direito a dois livros, (formato 18x25cm, capa colorida, miolo 1 cor).
Como devo proceder?
Os escritores interessados deverão encaminhar o texto para aluceni@hotmail.com, de acordo com os critérios propostos acima, até 30 de março de 2011 (prazo máximo para realizar o pagamento da participação). Caso resida fora de Araçatuba e queira participar, solicitar número de conta bancária para efetuar o depósito.
PARTICIPE E AJUDE DIVULGANDO!
Antonio Luceni
Diretor de Integração Regional - São Paulo/Noroeste - UBE
http://www.blogdaube.blogspot.com/

domingo, 13 de fevereiro de 2011

mais ditaduras

Li hoje num jornal uma matéria especial sobre uma pesquisa da Apeoesp (Sindicato dos professores do ensino oficial do estado de São Paulo) que foca o professor da rede pública como vítima de estresse. Enquanto expõe os resultados da pesquisa e discute a condição de trabalho dos professores, a matéria mostra um depoimento preocupante: uma professora, que segundo o jornal, não quer se identificar por medo de represálias, diz a seguinte frase: "Somos cobrados de tudo na escola. Se damos declaração somos questionados, enfim não temos liberdade para nada".

sábado, 5 de fevereiro de 2011

tantas ditaduras!

É 2011.

Em 1984, no Brasil, o clima era de esperança na redemocratização das instituições.

Lembro-me de 1984 como se fosse hoje...

Naquele tempo os adultos pensantes festejavam a falência do regime militar, instalado a partir de 1964. O aniversário de 20 anos do regime tinha na verdade um tom fúnebre... para os militares. Ninguém mais se iludia com o que havia. O regime agonizava e dava seu adeus. O povo - na voz dos intelectuais, jornalistas, artistas, ativistas e todo tipo de gente politizada que tinha se sacrificado contra os abusos do regime - proclamava que a democracia estava de volta. Ela voltou, cheia de planos, com mil desafios pela frente, com muita coisa para colocar em ordem. Mas foi se arranjando e oxigenando as instituições.
Contudo, 25 anos depois daquela eufórica vitória, ainda é possivel assistir a absurdos do tipo: dois locutores de rádio conversam no ar durante um programa; eles falam de antigos sucessos e relembram alguns fatos que foram notícia no passado, à época das canções que estão comentando. De repente um deles se lembra de um filme e de um nome de uma figura pública, que ainda atualmente está presente na mídia. Como se tivesse um censor ao seu lado, o locutor, em tom descontraído mas com certa ironia, oculta os nomes tanto do filme - que na época gerou polêmica - quanto da atriz, a figura que ainda é vista pelo público, só que sob outra imagem, quase contrária àquela que lhe valeu no passado o ingresso para o sucesso.
Ditaduras ainda existem. Locutores, jornalistas, artistas, que deveriam se sentir livres, ainda renunciam a algumas palavras, como se fossem censuradas.
Em nome de quê?