quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Estefânio tenta entender o que é o crescimento

Diário de Estefânio Marchezini

17 de julho de 2005

Me lembro que no início havia uma simplicidade e os sentidos podiam trabalhar à vontade porque nada me assustava, não a ponto de eu correr sem parar em busca de um esconderijo como se eu fosse vítima de uma perseguição implacável. Não. Aquela simplicidade, ainda que já anunciasse discretamente uma tendência do meu espírito a um olhar labiríntico das coisas, me mantinha sempre estável, ilusoriamente dono do meu território, saudável, presente, ou melhor, antecipado aos fatos. Tudo que acontecia à minha volta eu tentava submeter a uma observação que eu acreditava legítima e acima de qualquer possibilidade de desengano. Ora, a inocência nos garante esse direito; pelo menos na infância somos propensos a vanglória do juízo porque tudo é simples. Estamos, ou devemos estar, quando crianças, totalmente alheios à complexidade. Mas quando alguma força patológica interior aguarda ansiosa pelo crepúsculo da infância em que a criança enfim dorme para sempre e no lugar dela desperta a criatura meio-criança-meio-adulto... aí a simplicidade nos dá seu adeus definitivo.