quarta-feira, 19 de setembro de 2012

OLHO DE VIDRO - parte VII


Passamos para a 2ª. Parte do livro “OLHO DE VIDRO”, de Márcia Tiburi. Essa parte recebe o título de TELA. E seu primeiro capítulo: “Prótese, Superfície, Tela”.
Nesse primeiro capítulo Márcia se apoia em Walter Benjamin para nos localizar em seu discurso. Márcia nos mostra, através de Benjamin, a mudança, o deslocamento que a percepção sofreu com a introdução da tela de cinema num mundo onde estávamos habituados com a tela com imagem parada. Houve um choque, uma violência, cuja consequência é uma alteração radical no espectador. “Podemos interpretar este perigo existencial como uma nova forma de comportamento em que uma ação causa uma reação, em que a hiperexcitação não apenas aniquila a capacidade ativa, mas a torna compulsiva, ou seja, robotizada, não livre”. (pg 129)
O olhar, dependente agora do movimento, torna-se evento do tempo. O corpo está imóvel. E imóvel tende a ficar a reflexão enquanto se busca acompanhar o movimento.  O espectador, agora telespectador, precisa se organizar diante de uma prótese da vida, a tela sob a dinâmica da nova técnica de imagem. Nessa condição, em relação a tela tradicional, o prejuízo do sujeito é inevitável.
Considerando que o mundo das imagens é de natureza não só estética mas também política, Márcia propõe que olhemos para transformação do sujeito que assiste à tela em movimento: “O sujeito é devolvido a si mesmo como coisa, em certo sentido é dessubjetivado” (pg 135). Todo o processo começa com a alegação de que o espectador já não busca o objeto mas é por ele capturado. O objeto se interpõe. Na medida em que esse processo é de ordem coletiva a cognição é estetizada. O olho fixo na tela – o ato de tele-ver  ou  inver – reduz o sujeito que olha em sujeito protético.
Termino esse breve resumo com a exposição de Márcia Tiburi sobre os termos “telona” (cinema) e “telinha” (televisão). “Enquanto a grande tela nos abarca para nos mostrar o que é maior do que nós mesmos, promovendo distância e crítica, dúvida e autorreflexão, a pequena tela seria aquilo que abarcamos com nosso olhar. Supomos assim ser menores do que o cinema, que nos faz maiores, e maiores do que a televisão, que nos faz menores. O poder do  maior é o de nos conter, o do menor é o de nos concentrar”.  (pg 136). Outra observação importante de Márcia: os filósofos que pensaram o surgimento da imagem em movimento não sabiam ainda do que viria, as câmeras individuais e o YouTube, por exemplo, o que concede outras características ao sujeito.