terça-feira, 22 de maio de 2012

o novo livro

sexta-feira, 18 de maio de 2012

ESPECIAL [19/05] Sábado – Se Vira Ribeirão no Espaço A Coisa (Artes Visuais e Blues com Sarau Literário) No sábado, o Espaço A Coisa abre a suas portas para um dia de atividades gratuitas. O evento é parte integrante do “Se Vira Ribeirão”, a virada cultural realizada por artistas e produtores da cidade para suprir o cancelamento da Virada Cultural da cidade. A programação começa às 14h com a palestra sobre fotografia e intervenção urbana de Joyse Cury, professora do curso de Fotografia do Instituto A Coisa, e outros. Em seguida, atividades de oficina e intervenção com os artistas João Naccarato, Rui e Fábio Marquês, entre outros. Às 23h59 acontece a estreia da banda de blues “Pé no Saco”, dentro do projeto Madrugada Literária, que pretende realizar uma grande balada literária com muita música e poesia na madrugada ribeirãopretana. Além da declamação de textos pelos músicos, o público é convidado a ler poemas e a escrever textos com giz na parede do Espaço A Coisa, expandido a literatura para além dos livros, tornando-a viva na experiência de cada participante. A entrada para a estreia deste evento na Madrugada Literária será gratuita, dentro da programação do “Se Vira Ribeirão”. Espaço A Coisa (PROGRAMAÇÃO) Intervenções Urbanas Fotografia Photostorm – Mariana Simon sábado 14hs/16hs Palestra e ação Urbana – Joyce Cury e Emanuel Dlouhý 15hs duração indeterminada Vídeo Oficina e ação urbana – Marcos Amorim 16hs duração indeterminada Exibição de Curtas – a partir das 22hs – Ação coletiva – Seleção de Gabriela Hebling Pintura Bate papo e Intervenção Urbana– João Naccarato, Rui e Fábio Marques 14hs duração indeterminada! Intervenção Sensorial Água – Juliane e equipe 20hs Música – Blues com “pé no saco” – 00hs/3hs Madrugada Literária – 00hs – Declamação de textos e poemas pelos músicos e público que está convidado a escrever textos com giz na parede do Espaço A Coisa. Pirofagia – Rodrigo Villac e Marcelo Mamute – 00hs *** Madrugada Literária Na madrugada de sábado para domingo, banda de blues “Pé no Saco”que vai tocar sem couvert artístico a partir das 23h59 (entrada livre) PÉ NO SACO: “Blues e literatura. Projeções e embriaguês. Já dizia Vininha sobre os desencontros do tempo, dos percalços do caminho. Vamos de vagar e curtindo muito a viagem que a casa é nossa. Dia 19/05, sabadão, lá pra meia noite, vamos colocar o nosso blues canalha no Espaço a Coisa e misturá-lo às poesias da madrugada num copo bem grande. Tudo dentro da programação da virada cultural independente de Ribeirão Preto, o Se Vira Ribeirão. Vamos colocar umas poesias nas paredes, sinta-se livre pra tomar o microfone e gritar os versos, vai rolar também projeção de alguns longas como “HWY: An american pastoral”, do Jim Morrison, “Almoço nu” baseado na obra do William S. Burroughs e mais algumas imagens que surgirem no imaginário geral. A entrada é gratuita, preservando o ir e vir dos nossos colegas” Data e hora Dias 19 de maio, das 14h até as 3h da manhã do dia 20 de maio. Entrada Gratuita

domingo, 6 de maio de 2012

o Mal na sala de visitas de Goethe

Se Goethe contribuiu, no projeto do "Sturm und Drang", com a língua alemã, acabou também contribuindo para confortar o espírito alemão, ao transportar o Mal (do mito faustiano) para a ficção. Com "Fausto" (a primeira parte publicada em 1801 e a segunda, publicada em 1832), o gênio alemão de Goethe concede a Mefisto voz e pensamento. Mostra seu comportamento e os traços da sua personalidade. Subtrai, assim, a figura demoníaca do seu meio folclórico (a lenda do homem que vende a alma ao Demônio tinha ganhado expressão através das chamadas volksbuch) para elevá-lo ao campo da Arte, da representação.  

A obra de Goethe tem duas partes, mas a que se popularizou mesmo foi a primeira. Ali está o drama do médico Fausto que assina um contrato comprometendo sua alma após a morte, em troca de conhecimento. Ainda vivo, porém, ele conhece o amor de Margarida e se arrepende do contrato, pois sua amada pertence a outro plano espiritual. Margarida está no plano do divino, pertence ao discurso sacro, ao mundo da fé. Fausto, pelo contrato, já não pertence a esse mundo; mudou-se para o plano racional da vida, comunga com o conhecimento sem limites, as artes sem moral, os prazeres do saber e da estética.

Mas por ser sempre insaciado e inconformado, Fausto despreza as barreiras que o separam de Margarida e a seduz. O resultado da intransigência: sua amada perde sua aura, perde-se... cai em desgraça, morre.

Está feita aí, na perdição de Margarida, a reconciliação do homem com sua consciência de ser limitado; está restabelecida a ordem contaminada pelo Mal. Mas muitas perguntas ficam no ar: se Fausto amou e se sentiu merecedor de amor, então por que rompeu com o plano do amor divino, aqui compreendido como o amor que salva, que resgata, que converte, como era a figura de Margarida?... Diferente de Dante, na "Divina Comédia", o herói faustiano se vê promotor da morte, eliminador da esperança, inimigo da fé... Se em Dante sua amada Beatriz (a conversão) já está morta (no Paraíso), em Goethe, a esperança de salvação aparece primeiro em vida, vulnerável, à mercê da ação de Fausto... E é por estar viva que Margarida não consegue converter o amado, mas ao contrário, perde-se por causa dele. Assim, a vida é o palco do Mal, para Goethe. É aqui que o Mal se articula, rompe num disfarce da natureza, num mandacaru, num cachorro, em qualquer coisa que possa chamar a atenção de um homem desesperado. Lança suas artimanhas e corrompe o coração fragilizado pela dor e pelo ódio. Ganha a mente talentosa e inteligente, sedenta de saber e ávida por desvendar mistérios. É no corpo vivo que o Mal se encarrega de operar sua força.

Mas se o Mal opera na vida, por que Fausto conheceu o amor depois de se tornar meio-vida-meio-morto?

Ou... o que seria então o amor redentor de Margarida?... Para Fausto, seria ele a verdadeira maldição?...

Fui assistir à peça A INCRÍVEL HISTÓRIA DE BENEDICTO FAUSTO E DE SEU IRMÃO PERSIVALDO O SONHADOR. Trata-se de mais uma leitura do clássico alemão. Aqui, Fausto é um brasileiro do Nordeste, uma alma opressiva com o sofrimento do seu meio, de um lado, e com o desejo de ruptura, de outro. Sob domínio de Mefisto, o ambicioso poeta do nordeste segue para São Paulo em busca de dinheiro e de "tudo que o dinheiro pode comprar". Deixa para trás o conformado irmão Persivaldo, que acredita na água (que Deus há de mandar). A peça traça as duas histórias, o irmão que permanece no plano do sagrado (Persivaldo) e o que segue as diretrizes da Razão (Benedicto).

Já enriquecido com a ajuda de Mefisto, o irmão rebelde acaba descobrindo outros problemas: sua vida de rico empresário enfrenta o conflito de classes. Fausto, que conheceu a miséria e foi vítima de exploração no passado, agora tem que combater aqueles se sentem explorados por ele. Como Mefisto tem a missão servir  Fausto durante sua vida, ele promove uma festa para acalmar os ânimos do proletariado e transmitir a ideia de que Fausto é um bom patrão.   E eis que a festa (estratégia mefistofélica) acaba se tornando palco do encontro de Fausto com a operária Margarida. Os dois se apaixonam, claro!... Fausto, porém, finge: não deixa a moça saber que ele é seu patrão. Estamos diante de dois mundos opostos: burguesia versus proletariado, razão versus sagrado.

A Margarida desta versão segue a tradição goethiana: acaba morrendo depois de ganhar consciência de que fora enganada por Fausto.

O Mal opera na vida. Ele não deixa Margarida acreditar que Fausto a ama de verdade. Ela acredita na diversidade dos mundos. Ela acredita na enganação do Demônio.

E Fausto?... No que ele acredita?... Por conhecer o amor após o pacto, ele acredita que Margarida lhe é uma provação?... Um sinal de Deus (que ele desprezara)?...

Na peça acima citada, do dramaturgo Luciano Dami, o Fausto nordestino deseja se salvar voltando ao nordeste e à companhia do irmão Persivaldo. É o retorno às origens como tentativa de restauração e correção dos erros. Percebemos neste Fausto um inconsciente  impulso contra as forças que o motivaram a sair do Nordeste: a mulher do irmão - a Margarida nordestina - é a continuação da provação, do infortúnio, da queda... a queda que se dera com a morte da Margarida operária paulista. Não há salvação em vida quando se assina um contrato com o Mal: Benedicto Fausto se suicida. Na morte, sem as fragilidades da doença da alma, Fausto é julgado favoravelmente graças a um poema dedicado à sua amada, antes de conhecê-la. É nesse amor sem destinatário que a peça mostra ao espectador uma parte fundamental do complexo de Fausto: o homem capaz vender a alma ao demônio em troca de coisas mundanas é também um homem de alma não-mundana... Por isso Fausto nunca deixara de ser metafísico.

O Mal... que possibilitara todo o quadro da tragédia de Benedicto Fausto torna-se também um Mal em vias de reflexão, de análise, de exame contínuo. O Mal precisa nos responder porque possibilitou a Fausto seu encontro com Margarida.

peça:  A INCRÍVEL HISTÓRIA DE BENEDICTO FAUSTO E DE SE IRMÃO PERSIVALDO O SONHADOR

elenco:  ALUÍSIO GENTILINE, JONAS VILLAR, BRUNO IAGO,  FÁBIO BOTELHO, FRANCINE ASSAD, GRAZIELE AMBROSIO, NATÁLIA COUTINHO

dramaturgia: LUCIANO DAMI

direção: ALUISIO GENTILINE





quinta-feira, 3 de maio de 2012

O PERSONAGEM


Quando nasce um livro, as personagens, ou pelo menos seus protagonistas, já estão velhos. Assim eu percebo meus personagens. Porque eles nascem bem antes da história. Eles vagam por muito tempo no plano infinito antes de serem confrontados com o real.
                O que é o Real para um personagem fictício?... O real lhe chega como uma outra ficção, pois só assim essas duas entidades, personagem fictícia e realidade, conseguem se fundir.  Essa realidade disfarçada de ficção não teme qualquer ameaça. Ela é vigorosa porque é só ideia; não possui ação, não contempla reações, valor, juízo. Ela é uma foto do real mas não possui o estatuto da realidade.       Assim, o personagem fictício consegue se inserir nela e articular com suas forças... energia que vem do Real (consciência, valor, juízo, ação). 
                 Ao se encontrar num plano de possibilidade real, do limite, não mais do infinito, o personagem entra no processo de construção, de fato. Meus personagens são mais vivos e coerentes quanto mais viva e forte é a experiência real que os abraçou e os transportou para o enredo. Meus personagens fatalmente resistirão à escrita enquanto não houver uma harmonia nesse encontro, nessa junção.  Deve haver um mínimo de harmonia.
                Paradoxalmente, o personagem muitas vezes nascerá da própria negação do real e isto tornará sua construção ainda mais terrível. Contudo, ele buscará uma via de acesso enquanto vagar pelo campo da ideia. Ali ele mostrará várias faces mas estas raramente revelarão nitidamente sua essência. Mesmo antes de ganhar páginas, o personagem detém uma essência e ela só terá chance de se revelar com fidelidade quando se consumar a ficção/criação.  Nesse estágio, a ideia terá se materializado, a sustentação daquele coração fictício terá enfim uma chancela: a Forma.
                Palavra e Realidade são portanto as frentes de batalha em que o personagem de ficção travará sua luta por concretização, ora se entregando, ora resistindo. Ele se nutrirá da seiva do conhecimento da realidade. No ato da escrita, quando o real é disperso, nebuloso, maquiado, o personagem tende a recuar.  O conhecimento aqui significa a realidade vivenciada como confronto, mesmo no cotidiano. Ainda que esse confronto se dilua no tempo de vivência – o que amortece o poder de impacto da experiência vital – deve se abrir os olhos para o arrebatamento. Pois é através dele que o personagem fugirá da invenção para se tornar ficção.