domingo, 11 de maio de 2014

POTENCIALIZAÇÕES: O CASO FABIANE

POTENCIALIZAÇÕES: O CASO FABIANE

            Em abril deste ano, circulou pelos jornais virtuais a notícia de que um jovem casal havia sido atacado na cidade de Guarujá. Os dois, vindos do ABC paulista, estariam tentando pichar uma rocha perto de uma praia. Estariam pichando “ABC”  quando foram abordados por um grupo de pessoas que estava na praia. Segundo os noticiários on-line o grupo castigou os dois jovens, pichando-os de preto. As fotos expostas na internet mostram um rapaz e uma moça pintados totalmente de preto, inclusive os rostos.
            A agressão a esse casal me lembrou outros episódios modestamente mostrados ultimamente nos sites de notícias dando conta de justiçamentos (pessoas agindo por conta própria para punir alguém acusado ou flagrado em algum delito).  Mas nenhuma dessas histórias se compara ao que ao que aconteceu com Fabiane Maria de Jesus, também na cidade de Guarujá. Os sites de notícias e outros canais midiáticos contaram que na tarde de sábado, dia 03, uma dona de casa fora confundida com um retrato falado que circulava pelo Facebook, numa página chamada Guarujá Alerta. O retrato falado seria de uma criminosa que raptava crianças para usá-las em rituais de magia negra. Fabiane, a dona de casa, teria sido confundida com o retrato.  Moradores do bairro Morrinhos, de Guarujá, atacaram, arrastaram, agrediram, lincharam Fabiane. Ainda segundo os noticiários, a polícia teve que fazer um cordão de isolamento para que uma ambulância conseguisse socorrer a dona de casa. Fabiane foi levada para o hospital mas morreu na manhã de segunda-feira, dia  05.
            Durante toda esta semana os noticiários estiveram em busca dos fatos que levaram à tragédia, mesmo porque as imagens do linchamento foram expostas na Internet, o que causou algo que se pode chamar de uma angústia coletiva. Uma angústia coletiva provocada pela tentativa de compreender o que parece inexplicável... E vieram as investigações, depoimentos na polícia, análise das cenas mostradas na rede. Com a repercussão do caso, chegou-se à origem do tal retrato falado: fora feito pela polícia do Rio de Janeiro em 2012, por conta de tentativa de rapto. Uma mulher teria tentado arrancar um bebê dos braços da mãe que saía de um posto de saúde. Um homem que passava conseguiu recuperar o bebê mas a mulher, a suposta sequestradora, conseguiu fugir. A mãe foi à polícia e descreveu a mulher. O retrato falado, porém, não ficou só nos arquivos da polícia do Rio; perambulou pela rede e chegou a várias cidades, inclusive de outros estados. Ao que parece, ao longo desses dois anos de “compartilhamentos” e propagação do retrato no mundo virtual, o rosto da mulher desconhecida fora ganhando versões diferentes, mas sempre associadas ao perigo, ao crime. Na cidade de Guarujá a página do Facebook chamada “Guarujá Alerta” publicou o retrato informando que se tratava de uma mulher que roubava crianças para usá-las em ritual de magia negra. Ainda segundo os sites de notícias, os administradores da página teriam permitido a divulgação da imagem sem pesquisar sua origem e a veracidade da denúncia, embora alertassem que pudesse se tratar de um boato. E era um boato. Aliás, no período de propagação da imagem, o retrato ganhou o status do que se costuma chamar de lenda urbana, a expressão de um sentimento ou um sentido que, devido a uma série de fatores, se potencializa, se agiganta numa comunidade, ainda que no silêncio, na discrição, na mudez... Somado à potencialização tradicional da “lenda urbana” temos a potencialização tecnológica proporcionada pelos recursos da comunicação virtual, que agilizam o tráfego de imagens, sons e palavras digitais por espaços virtuais.
            A história pessoal de Fabiane cruza com essas potencializações no momento em que ela passa por uma crise na saúde. Segundo o marido da dona de casa, ela era diagnosticada com transtorno bipolar e por esses dias vinha sofrendo uma crise. Passava horas fora de casa, criando pretextos para visitar amigos e parentes, andando de bicicleta pelas ruas, falando às vezes frases desconexas... agindo, enfim, sob o efeito de um distúrbio mental, que nem sempre é compreensível por quem não está familiarizado com a pessoa portadora da doença. As últimas informações levantadas pelos noticiários dão conta de que o momento chave que desencadeou no linchamento de Fabiane ocorreu quando ela, ao sair de um mercado, ofereceu uma fruta a uma criança. Pessoas que estavam por perto associaram o gesto da mulher ao retrato falado e ao alerta que se via na página “Guarujá Alerta”. Confundiram as coisas, misturaram tudo num sentimento só, tomaram a dona de casa como a mulher do retrato. Para piorar tudo - triste coincidência! - na manhã daquele dia Fabiane tinha tingido os cabelos de uma cor diferente dos seus, por isso não foi reconhecida imediatamente por ninguém no local, que pudesse esclarecer a situação naquele momento tenso de acusação. Em meio ao clima de dúvida, por um lado, e de revolta, por outro, venceu a acusação e o sentimento de vingança, o sentimento de ódio cego. Fabiane foi brutalmente agredida por causa de uma confusão que envolvia uma opinião coletiva. Uma opinião que, por ser coletiva, deveria ser “verdadeira” e principalmente de autoria anônima. Sob o anonimato do gesto, comungado, de destruir a suposta bruxa, os participantes do linchamento não se incomodaram com as câmeras digitais que fotografaram e filmaram tudo... Agiram movidos pelo ódio, sem perceber que poucos dias depois seriam alvo desse mesmo ódio, só que mais potencializado, levado à esfera do nacional e do internacional. Tomaram consciência, enfim, de que supliciaram e mataram uma pessoa inocente...

            Ironias do mundo digital!...

domingo, 26 de janeiro de 2014

palestra JUVENTUDE E INTERNET

amanhã, segunda-feira, dia 27 de janeiro,

às 20:00 hs,

na paróquia SÃO JOÃO BATISTA (Av. Portugal, 2120 - Ribeirão Preto-SP)

tema: JUVENTUDE e INTERNET

minha palestra fará parte das atividades da recém-criada PASTORAL FÉ E POLÍTICA na paróquia.

todo mundo convidado...