sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

as cartas manuscritas de Iraci

Apesar da era da comunicação fácil, via e-mail, celular e tudo mais, as cartas de papel ainda resistem.
Tenho uma prima, Iraci, que mora em São Joaquim da Barra-SP, e que adora se comunicar por cartas. As dela são sempre manuscritas. Mas independente da maneira da correspondência, o que nos cativa nas cartas de Iraci é a sua linguagem singular e sua expressão que mistura objetividade e poesia... bem isso nas cartas "sérias". Nas cartas "não-sérias", minha prima faz uso de um humor tão original que a gente não consegue associá-la a nenhum estilo a não ser ao dela própria. Enquanto a lemos, rimos porque assim acontece, porque a imagem que ela pinta simplesmente nos faz rir. Não é preciso uma conclusão irônica, nada disso; basta se deixar levar pelo humor que é um misto de inocência infantil com fábula ou imaginação fantástica.
Mas a última carta que recebi de Iraci não tinha essas brincadeiras que nos divertem e nos fazem rir; era a carta que traz aquele tom poético de que falei no começo. Ela me escreveu para agradecer um livro que eu lhe enviei; o livro que lancei em 2009: "Mundo Suspenso". Para expressar sua gratidão e as impressões que teve depois de ler o livro, Iraci me conduziu por um caminho de serena contemplação do ato de escrever. Pelas frases dela, revivi muitas ideias que já me acompanham há muitos anos, mas de uma forma diferente, mais forte, pois vinham de uma pessoa que tem por hábito colocar também nas palavras escritas um sentimento que dificilmente a gente consegue expressar pela fala.
Iraci mostrou-me sua visão do ato de escrever enquanto ela própria cumpria esse ato com elegância, simplicidade e sabedoria. Ela, minha leitora, transformava a mim em sua leitora também. Fiquei ali, encantada por frases de efeito muito positivo mas também muito espontâneo, profundo e singelo, poético e direto.
Iraci, que é alguns anos mais velha que eu e que teve que parar de estudar muito cedo por causa do trabalho, talvez nem perceba, mas enquanto me parabeniza pelos meus escritos, é ela quem presta homenagem à literatura, com seu estilo, seu encantamento pela vida, seu conhecimento de quem faz do mundo a sua verdadeira escola.