domingo, 7 de agosto de 2011

Deus e Demônio para o Fausto de "ATO PENITENCIAL"


... Ou talvez não seja deslocamento... Não... Talvez Asmodeu só esteja cumprindo o que lhe fora programado!... Em ATO PENITENCIAL é possível que o demônio Asmodeu esteja só cumprindo seu papel, estabelecido por Fausto.
O que Fausto estabelece a respeito de Deus? Vejamos: pela incursão circunstancial de uma culpa em plena infância (com 9 anos de idade), Fausto se vê penalizado "eternamente". À medida que ele cresce, Deus se torna para ele cada vez mais remoto. No entanto, para suportar a pena, é preciso servir ao objeto dessa culpa, ou seja, é preciso servir ao pai, morto em decorrência da imprudência de Fausto. Enquanto reza pelo pai real, Fausto administra sua culpa rezando pelo deus (Cristo) que também fora sacrificado como salvação. Trata-se de um deus "simbólico" que se equipara ao deus real (o pai). Mas ao longo da escrita, ao longo do Ato Penitencial proposto, Fausto se conscientiza sobre tudo isso, sobre todo esse arranjo, e é por isso que sente seu deus - aquele que ele, enquanto sacerdote, invoca - como um deus remoto e obscuro. Daí portanto o seu desprezo para com as provocações de Asmodeu. O demônio não o conquista porque está no mesmo plano do deus simbólico: é só vertigem!... Asmodeu oferece aquilo que Fausto mais deseja, mas não consegue seduzi-lo porque Fausto está preenchido pela associação que faz do pai real com o deus judaico-cristão.
Pode-se dizer que Fausto canalizou para a Igreja sua energia restauradora, sua esperança de se livrar da culpa pela morte do pai. Mas ao fazê-lo, o que restaurou mesmo foi a relação com o que é considerado Mau. O que a sociedade classifica como mau, Fausto absorve como frágil e reabilitável (por meio da ciência); portanto esse mau é menos mau do que ele, Fausto, que se sente imperdoável. Logo, há em meu Fausto um olhar estritamente carnal, terreno sobre a vida, onde não cabem promessas religiosas e fórmulas místicas... Tal como o deus de sua Igreja lhe é obscuro e abstrato, o demônio também não o atinge.
Na referência figurativa, a pintura de Wilhelm Koller, "Fausto e Mefistófeles esperando Margarida na porta da Catedral"

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