quinta-feira, 1 de abril de 2010

A geração de Estefânio, segundo ele mesmo

Diário de Estefânio Marchezini

22 de julho de 2005

Talvez esteja por vir o dia em que essa visão, esse olhar da sociedade sobre nós, mude. Mas considerando até as minhas observações mais otimistas, que não são muitas, não acredito que isso venha logo. Talvez seja necessário aguardar até que essa nossa geração assuma o comando do mundo para ver no que vai dar e aí ela mesma, já adulta, julgue a educação recebida. Imagino que tenha acontecido assim nas últimas gerações quando a juventude fez algumas conquistas. Alguns elementos cultivados pela geração de meus pais e avós já não se mostram mais tão adequados à minha. Eles mesmos enquanto jovens cuidaram do cultivo e agora amaldiçoam os consumidores; mantêm os filhos e netos superprotegidos contra as tentações às quais muitos deles não resistiram.
Assim é. Pelo menos é nesses aspectos da minha sociedade que eu volto a atenção. Mas não para condená-la ou exigir coisa alguma, mesmo porque eu não sou o senhor dos meus olhos ou ainda não tenho maturidade para responder definitivamente por este olhar. Ciente disso, tento seguir meus colegas na sua alegre tranquilidade e esperar que eu aprenda a dar tempo ao tempo até que as próprias circunstâncias façam o mundo pesar sobre meus ombros de acordo com o expediente para a qual há toda uma programação bem elaborada. Mas... eu não consigo fechar os olhos para a realidade da fortaleza que constróem constantemente a cada passo que damos. Minha curiosidade vai além do que estou permitido a ver; quero saber as razões de muralhas tão altas, quero entender o que faz meus pais, professores, médicos, inspetores de alunos, guardas de trânsito tão obsessivamente preocupados conosco. E é por isso que comparo gerações anteriores com a minha. Não para julgar ninguém mas para me precaver com relação à geração dos meus futuros filhos.
Se a questão fosse só a segurança, a integridade física, a saúde, não haveria motivo para tanto desgaste. Eu percebo que é mais do que isso. Sob o pretexto da proteção, a sociedade construiu um baluarte formado de produtos de toda espécie, estereótipos e todo um arsenal de símbolos que permitem a ela detectar o mais discreto desvio do que se estabeleceu como ideal. De certa forma esses instrumentos tornam mais fácil a vigilância que, apesar de necessária, é difícil quando há tanto o que se fazer hoje em dia para se sustentar essa própria realidade. A propósito, o que chamo aqui de realidade, certamente ganhará, algum dia, algumas páginas deste diário pois ela é um dos assuntos mais atraentes para mentes perturbadas como a minha.

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