sábado, 17 de setembro de 2011

A Ciência

Tive a sorte de ter conhecido minhas avós, a paterna, Mariana, e a materna, Ana Marcelina. Eu adorava tê-las por perto. Mas quando elas se foram, eu entendi que perder avós era coisa normal. A avó materna morreu quando eu tinha seis anos. Quando a paterna morreu eu tinha uns quinze anos. Essas duas velhinhas eram bem diferentes uma da outra, mas para mim eram iguais. Ambas me deixaram o mesmo retrato como herança: eram muito voltadas às coisas "dos céus". Mariana era católica fervorosa, do tipo que segue os preceitos da Igreja com fidelidade invejável. Ana era benzedeira. Curava problemas de saúde dos outros com rituais e procedimentos, digamos bem naturais.
Mariana e Ana me ensinaram a gostar da tradição e da natureza. Respectivamente. Mas por alguma razão que eu desconheço, essa herança teve pouquíssimo peso na minha concepção de mundo e de crença. Assumo que sou extremamente cientificista.
Para ser cientificista não é preciso ser cientista. Na verdade minha formação acadêmica tem sim muito a ver com meu pensamento: sou formada em Ciências Sociais. Mas isso não é tudo: a gente se torna cientificista por causa de outros processos além da formação acadêmica. No meu caso, eu não sei com clareza quais são esses processos. Na verdade eu sei, mas seria um tédio ficar explicando.
O fato é que me irrito cada vez que testemunho a insuficiência da Ciência. Me causa repulsa o fato de a Ciência (junto com o Estado) se mostrar tão impotente, tão conivente com crendices, tão medíocre. A saúde do corpo é problema da Ciência, o bem estar da mente é problema da Ciência. Não aceito outra solução.
Quanto à Religião, quanto às crenças tradicionais, que herdamos de um período anterior à emancipação da Ciência... entendo que elas são nossa chance de recolhimento. O homem precisa se recolher de vez em quando, precisa respirar um ar diferente do que respira no dia a dia. O homem precisa ter seu momento com deus, nem que seja muito raramente. Portanto, é necessário que conservemos a Religião.
Mas para as coisas práticas, materiais, físicas, cotidianas, lucrativas, vantajosas, estratégicas... temos a Ciência. Criamos a Ciência.
Não faz sentido misturar as estações. Não é porque a Ciência e o Estado caem em descrença a todo momento, que somos obrigados a recuar séculos e séculos e esquecer o que aprendemos.

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