terça-feira, 19 de outubro de 2010

Voltando a Estefânio/Zeus

No ato da criação muitas vezes nos sentimos dominados pela própria obra. Já não conseguimos controlar os pensamentos que ela nos leva a aprofundar. Assim, a ficção expande os limites do que era conhecido de relance e obriga o ficcionista a encarar o objeto do seu discurso com a tensão de um confronto definitivo. É assim que a minha obra se apresenta a mim quando a dou por concluída; nesse ponto já não tenho a independência de autora mas me transporto para o mar agitado da minha ficção em cujas águas terei que nadar exaustivamente até alcançar uma ilha. A ilha... o real que habitava em silêncio dentro de mim e que fora despertado pela ficção.
Nessa difícil travessia o romance é sem dúvida, para mim, o mais implacável dos gêneros literários. Dos romances que tenho como prontos, um deles ainda movimenta meu pensamento e minha reflexão estética: ATO PENITENCIAL, recentemente concluído. Mas os dias correm, as coisas acontecem e nossa mente trabalha sem parar; assim outros títulos ganham minha atenção: estou falando CRONOS ou DIÁRIO DE UM NEURÓTICO, que vem sendo postado/publicado por partes neste blog.
O que me fez associar o momento real atual com o drama do jovem protagonista Estefânio (o Zeus que se rebela contra o pai Cronos - ou Chronos?) foi a discussão em torno do tema do aborto, motivada por circustâncias político-eleitorais. Meu Estefânio, ao meu ver, vem de encontro ao tema desse "despreparo" paternal e maternal para gerar um filho. Meu Estefânio não fora abortado mas sente-se engolido pelo pai (a geração que o precede). Ambas as situações me parecem semelhantes. Matar ou engolir um filho é igualmente um ato de privar-lhe o direito e a chance de mudar o futuro.

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