sexta-feira, 3 de setembro de 2010

a neurose de Estefânio

Durante o tempo em que compus "Diário de Um Neurótico", eu perguntava, afinal, qual era o problema de Estefânio. Por que aquele medo profundo? Qual a origem de tanta impotência diante da maioridade?
Com o desenvolvimento da personagem, procurei explorar a ideia de uma geração "engolida" pela geração anterior. Essa foi a saída para o protagonista compreender seu deslocamento e seu gigante temor diante do que o mundo espera dos adultos. Daí veio a imagem do mito grego Cronos, que engolia os filhos ao nascerem. Estefânio se declara consciente sobre sua "doença", e entende que não se trata apenas de um caso isolado: ele é fruto de uma geração onde os pais e tutores, em nome da proteção aos filhos, anulam neles o pensamento, a ação, a vontade ou conduzem tudo de modo a poupá-los o máximo possível.
A relação com o tempo passa a ter um papel especial na figura do neurótico: Estefânio sabe que para agir, tomar decisões, fazer planos, tomar iniciativas, terá sempre que atravessar a barreira do distúrbio, o que lhe tomará mais tempo em relação àqueles que agem com mais segurança e equilíbrio.
Eis o perfil que traço do meu protagonista. Não creio que ele seja de todo uma fábula. Acho que Estefânio representa bem uma boa parte da geração de jovens hoje. E quanto a nós, sua geração antecedente, temos grande responsabilidade nesse estado de coisas.

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