segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O INÍCIO

Diário de Estefânio Marchezini

Ano de 2005


12 de julho

A todo instante encontro pessoas tentando me convencer de que meu mundo está em ordem. Minha indiferença é tratada como um privilégio. Acreditam realmente que sou um felizardo ou, no mínimo, que estou numa fase feliz da vida pois minha idade é pouca, tenho tudo a meu favor, tenho tempo para crescer com tranquilidade, tenho uma tranquilidade que é típica da minha idade ou, pelo menos, necessária, o que me coloca numa posição confortável em relação a todos que assim me julgam: fazem o máximo para que eu me sinta de fato tranquilo. E eu correspondo.
Talvez hoje, quando completo dezoito anos de idade, eu deveria aproveitar para fazer alguma coisa nova, usar o aniversário como pretexto e declarar algumas diretrizes para minha nova fase. Mas se eu fizesse isto, mesmo que me esforçasse para tornar essa atitude natural, quem me levaria a sério? Pois talvez eu esteja errando quando acabo, enfim, me adaptando a tudo isso, escondendo minha verdadeira face sob a máscara da indiferença. Mas é que em parte minha intenção, ainda que inconsciente, é representar toda essa ordem que parece obsessivamente necessária aos que tentam me moldar a ela. Em parte também é porque o empenho para com esse estado de coisas é tão gigantesco que não posso resistir mesmo que encontrasse um bom motivo, alguma coisa da qual dependesse minha vida, por exemplo.

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