quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

continuando...

Diário de Estefânio Marchezini

16 de julho de 2005

Não luto, porém, não posso ignorar as características desse não-lutar.
É difícil dizer que tipo de relação existe entre as características desse não-lutar com a manifestação da minha neurose. Não sei precisar sua relação com as possíveis causas da patologia, nem saber em que medida elas acentuam seus efeitos ou sintomas. Consideremos que tais características tenham sido determinantes para o nascimento da neurose. O que eu deveria fazer? Claro, eu deveria me revelar como sou e como me sinto, deveria portanto chocar, mas o choque também teria consequências dramáticas que talvez eu não tivesse condições de controlar uma vez que essa revelação seria fruto do meu desespero e portanto sujeita à ausência de cálculo. Consideremos então que elas tenham sido comprometidas ou mesmo determinadas pelos sintomas. Bem, então eu deveria apenas procurar um médico, contar a ele toda a verdade: que tenho renunciado a uma série de questionamentos pelo bem de uma ordem que é necessária mas que não me é adequada, não é própria do meu temperamento e com isso os prejuízos estão cada vez maiores na minha mente, por mais que eu me convença de que muitos estão ganhando ou que estão sendo poupados de muitos transtornos, sofrimentos e perdas de sono por minha causa. Depois então me submeteria ao tratamento indicado pelo médico, tomaria todos os remédios direitinho e estaria certo de que pelo menos aliviei o peso da minha consciência em relação ao meu próprio bem estar.
Portanto, pela lógica seria mais interessante considerar que as características do não-lutar tenham mais a ver com os sintomas da minha neurose. O problema é que não estou bem certo se devo encarar as coisas dessa forma e a lógica já faz tempo que deixou de ser um critério seguro devido, justamente, ao fato dela ter se esgotado durante o período em que eu lutava para me preservar diante da perspectiva de neurose. Enfim, ela não me socorreu quando eu ainda tinha capacidade de manter a calma e pensar devagar; agora, portanto, não vejo sequer a menor possibilidade de tentar, pois fico irritado toda vez que tento e essa irritação cresce à medida que aumenta minha percepção sobre a própria irritação e sobre a minha ridícula tentativa de não me irritar. Ou seja, toda vez que faço alguma coisa sob pressão acima da minha intuição, acabo dentro dessa espiral, a espiral da solidão. E a ação se anula instantaneamente.

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