sexta-feira, 8 de abril de 2011

"O cérebro é um repolho"


"O cérebro é um repolho" é o título de uma instalação do artista Alex dos Santos (ao lado), de Jaboticabal-SP. O olhar irônico da obra nos cativa pelo humor quase infantil que anuncia, na verdade, um panorama que beira ao cruel: a brincadeira com as formas (no caso, o repolho e o cérebro), mais a disposição empilhada de caixotes de feira, transgridem toda e qualquer proposta de equilíbrio.

É uma pena eu não conseguir fotos do trabalho. De qualquer modo, essa obra me vem à lembrança por causa de uma palestra no Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP), onde a pesquisadora Maria de Lourdes Figueiredo apresentou um resumo da sua monografia sobre Alex dos Santos e sua obra, que inclui instalações e pintura.

Foi bom conhecer melhor, ainda que só por fotos, a visão do jovem artista autodidata, que tem conseguido, ao que parece, um bom desempenho dentro do circuito regional de arte. Trata-se de uma visão muito particular sobre temas que estão na pauta de qualquer artista aclamado por público e crítica. O que caracteriza alguns trabalhos de Alex é a deterioração moral do homem, representada pela ação vitoriosa de animais. E também uma dramática insistência em misturar palavras com imagens, frases que devem esclarecer aquilo que o artista teme não conseguir transmitir só pela pintura. A insegurança na própria expressão pictórica torna-se, assim, objeto declarado da sua busca: a urgência do discurso, a urgência em entregar ao olhar alheio aquilo que o artista vê e sente. Nesse ponto Alex contraria a tese que tenta classificá-lo como ingênuo. Não, ele não é ingênuo, é excêntrico como qualquer artista tem o direito de ser. Ele não recua diante de tentativas de quem quer estereotipá-lo, ao contrário, faz desse julgamento uma razão a mais para sua urgência: afirmar o que nem todos estão prontos para receber. Entre as pessoas cultas, quem está disposto a reconhecer uma degradação social e cultural tão forte, capaz de fomentar distúrbios de todo tipo?

É contra esse descuido, esse exame apressado, e sobretudo contra a indisposição da sociedade brasileira de reconhecer suas doenças, que Alex dos Santos faz correr sua matraca pela tela, antes que algum Dr Simão Bacamarte o prenda na Casa Verde.








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