Segue
aqui o comentário de mais um capítulo da parte TELA do livro OLHO DE VIDRO, de
Márcia Tiburi. O capítulo intitula-se: “Medusa e máscara”.

Perseu,
o herói que vai enfrentar e vencer o poder de Medusa, só alcança a vitória
porque também se faz máscara. Seu sucesso consiste na tarefa de evitar cruzar o
olhar com o monstro. Em outras palavras, ele não pode deixar que seus olhos
sejam aprisionados.
Márcia
demonstra que, no entanto, as imagens que nos cegam – ou nos transformam em
pedra – são parte de nós, já que foram feitas para nós, “já que de nós
surgiram”. A audiência coletiva se conforma com um olhar coletivo da televisão
sobre os telespectadores. Ela nos olha como um mesmo e único espectador; esse
olhar tende, assim, a ser autoritário. Está encerrado o espaço para a ação
cognitiva do indivíduo. A pele-tela que nos separa do objeto se encarrega de
surrupiar a sensibilidade e banir o crítico da sala de TV. Mas como isso
acontece? O texto nos diz da simetria entre a imagem televisiva (que deve
agradar o espectador) e a servidão do espectador ao aparelho. Aqui compreendo
que a Medusa petrifica quem a olha porque não quer ser vista. A
Medusa-Televisão, por sua vez, petrifica porque - seguindo a reflexão de Márcia
(apoiada por vasta bibliografia) - estabelece-se como deus, “exigência de
adesão”. Esse novo deus dita a simulação do real (máscara) àqueles que se
sentam diante da TV como um rito para conquistar certezas. O sujeito não apenas
morre como se torna objeto do olhar televisivo.
Encerro este comentário observando que, na teledramaturgia brasileira,
assim como em programas variados, raramente se vê a presença de um aparelho de
TV no cenário, a não ser quando num dado momento da narrativa faz-se necessário
a presença dele. Mas de modo geral, mesmo num cenário que represente uma casa
(de qualquer classe), nunca se vê um aparelho de TV presente, contrariando ou
mascarando a realidade, visto que esse eletrodoméstico é comum em grande parte
das casas.