Enquanto
leio OLHO DE VIDRO, de Márcia Tiburi, vou tentando imaginar um telespectador
ideal. Não gosto muito de ser idealista, mas enfim... volta e meia me descubro
assim...
Um
telespectador ideal seria... alguém que
conseguisse regenerar e multiplicar seu olho quando esse olho é comido pela
televisão. O olho regenerado e multiplicado será sempre alvo da fome da
televisão, por isso ele deve se manter atento... atento a si e à televisão.
Mas,
falemos do livro. Li o capítulo chamado “VIDEODROME - O VÍDEO E A CARNE”. Bom, se o raciocínio de
Márcia Tiburi nesse livro sobre televisão já nos oferece uma visão com um
tempero um tanto exótico, imagine um capítulo onde a autora traz à baila o
cineasta canadense David Cronenberg, que assina o filme “Videodrome” (1983). Cronenberg,
por si só, possui um gosto pelo tema que
eu costumo identificar como a deterioração do corpo. Seus filmes são
perturbadores porque ele descobre doenças corpóreas que a gente não imagina. Na
verdade, acho que as doenças criadas por Cronenberg não podem ser classificadas
como tal, porque ele sugere – pelo menos nos dois filmes seus a que assisti: “A
mosca” e “Gêmeos, mórbida semelhança” – uma contemplação da anomalia ao invés
da cura...
Nesse
capítulo Márcia vai ao extremo da sua proposta de adotarmos a televisão como um
olho artificial. Ela se apoia no filme de Cronenberg para clarear sua
teoria na qual temos “a relação
orgânica, o novo corpo, daquele que, sem ser sujeito, permanece sendo corpo”
(pag. 115), corpo que se capacita para ser depositário de um discurso.. . Ora,
se podemos entender o conhecimento como resultado da nossa sensação do mundo
através dos sentidos, então temos que admitir o corpo como instrumento político
(Foucault saberia como argumentar sobre isso melhor que ninguém).
Esse corpo, submetido a uma
transformação em máquina (o novo corpo), carrega em si o histórico de captar o
mundo pelos sentidos. Mas a máquina, injetada no corpo pensante, contém em si
também um pensamento... alheio ao corpo
que recebe a injeção da máquina. Temos aqui um sujeito disforme!... Ou então
temos a eliminação do sujeito, já que a realidade produzida para o sujeito pode
destruí-lo e já que ele se perde entre a realidade e a alucinação. Não resta
dúvida de que Márcia Tiburi quer chamar a atenção para a subjetividade, malograda,
do corpo, cujo olho já foi “comido”.
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