domingo, 5 de agosto de 2012

Olho de Vidro - parte V



                No capítulo “Fome de Olho”, Márcia Tiburi faz uma interessantíssima colocação do conceito de inveja, para dar continuidade ao argumento da atratividade da televisão. Vejamos se consigo resumir aqui essa ideia um tanto complexa.  Márcia explica que “Ver nos dá uma informação exterior sobre a coisa. A inveja é o contrário.” (pg 106). A inveja consiste em querer comer  o que é visto, no sentido de que o que é visto apresenta objetos que serão divididos entre o que será tomado para mim e o que será descartado, jogado fora.  A Invidia seria o excesso do ver.
                A ação de tomar para si está muito próxima da ação da eliminação. A inveja é a confusão entre devorar e eliminar aquilo que quero devorar. Ou devorar aquilo que quero eliminar.
                Desse processo apossou-se a tecnologia, que cuida de oferecer ao olho o que ofereceria a um olho artificial: um objeto programado para ser devorado.  O olho artificial – o olho de vidro – é observador e observado ao mesmo tempo.
                Ao que parece a teoria quer nos fazer crer numa ação televisiva enquanto isolamento do ver-total. O que chamo de ver-total é o que nossos olhos veem fora do propósito televisivo, embora eu concorde que nosso olhar, alheio à televisão, ainda carrega em si componentes do olho de vidro, pois nossa cultura não sobrevive sem a televisão. “Quando falamos de televisão não se trata de uma caixa preta no sentido da fotografia, mas muito mais a caixa de Pandora do Espetáculo” (pg 110).
                Estamos nos aproximando, assim, do que quero “devorar”: a política por trás do aparelho de TV. Pois o que parece meio óbvio ganha mais força quando sustentado por uma observação filosófica. Assim acredito...
                O capítulo ainda não acabou. Tenho que continuar lendo... No momento em que estou parando Márcia fala da decisão de ver do sujeito. E que tal decisão é paralisada pela televisão. Acho que estamos diante de uma batalha que envolve câmera e tela.   
                

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