Passamos para
a 2ª. Parte do livro “OLHO DE VIDRO”, de Márcia Tiburi. Essa parte recebe o
título de TELA. E seu primeiro capítulo: “Prótese, Superfície, Tela”.
Nesse primeiro
capítulo Márcia se apoia em Walter Benjamin para nos localizar em seu discurso.
Márcia nos mostra, através de Benjamin, a mudança, o deslocamento que a percepção
sofreu com a introdução da tela de cinema num mundo onde estávamos habituados
com a tela com imagem parada. Houve um choque, uma violência, cuja consequência
é uma alteração radical no espectador. “Podemos interpretar este perigo
existencial como uma nova forma de comportamento em que uma ação causa uma
reação, em que a hiperexcitação não apenas aniquila a capacidade ativa, mas a
torna compulsiva, ou seja, robotizada, não livre”. (pg 129)
O olhar,
dependente agora do movimento, torna-se evento do tempo. O corpo está imóvel. E
imóvel tende a ficar a reflexão enquanto se busca acompanhar o movimento. O espectador, agora telespectador, precisa se
organizar diante de uma prótese da vida, a tela sob a dinâmica da nova técnica
de imagem. Nessa condição, em relação a tela tradicional, o prejuízo do sujeito
é inevitável.
Considerando que
o mundo das imagens é de natureza não só estética mas também política, Márcia
propõe que olhemos para transformação do sujeito que assiste à tela em
movimento: “O sujeito é devolvido a si mesmo como coisa, em certo sentido é
dessubjetivado” (pg 135). Todo o processo começa com a alegação de que o
espectador já não busca o objeto mas é por ele capturado. O objeto se interpõe.
Na medida em que esse processo é de ordem coletiva a cognição é estetizada. O olho
fixo na tela – o ato de tele-ver ou inver – reduz o sujeito que olha em sujeito
protético.
Termino esse
breve resumo com a exposição de Márcia Tiburi sobre os termos “telona” (cinema)
e “telinha” (televisão). “Enquanto a grande tela nos abarca para nos mostrar o
que é maior do que nós mesmos, promovendo distância e crítica, dúvida e
autorreflexão, a pequena tela seria aquilo que abarcamos com nosso olhar. Supomos
assim ser menores do que o cinema, que nos faz maiores, e maiores do que a
televisão, que nos faz menores. O poder do maior é o de nos conter, o do menor é o de nos
concentrar”. (pg 136). Outra observação
importante de Márcia: os filósofos que pensaram o surgimento da imagem em
movimento não sabiam ainda do que viria, as câmeras individuais e o YouTube, por
exemplo, o que concede outras características ao sujeito.
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