quinta-feira, 5 de julho de 2012
olho de vidro - parte II
No capítulo “A Partilha do Visível”, também pertencente à parte OLHO do livro “Olho de Vidro”, Márcia Tiburi compara a ação da Televisão à instrução sexual... O “fazer ver” da televisão é como uma educação para a sexualidade.
As condições estão postas: ver é tão natural quanto o desejo. Mas o olhar pode ser orientado por alguém fora de mim. O “ver-televisão” é uma prática orquestrada pelo modus operandi que cuida de anestesiar o sujeito... Assim estou interpretando as palavras de Márcia Tiburi nesse capítulo.
“É que o ver-televisão é, em certo sentido, pré-linguístico como que lançamento no impensado, na imediatidade como espaço assegurado” (pg 81). Aqui MT nos leva, a meu ver, para um estágio em que o táctil compunha, junto com a visão, uma forma de conhecer, um estágio anterior à linguagem. A televisão se apossa dessa tática: investe na ausência de linguagem, à maneira da criança que ainda não sabe falar, para executar sua sedutora proposta de ver sem o compromisso de agir. Tal investimento consiste em construir imagens que estimulem um “excesso de certeza”. Enquanto olho as “certezas” oferecidas pela televisão, vou me esquivando de buscar outras certezas, por outras vias, sobretudo pelo pensamento.
Gostei especialmente da relação que Márcia faz entre o olho, como parte do corpo, e a consciência: “Uma visão que implica o corpo humano na sua condição de vivente, seja o meu, seja o coletivo, o corpo feito de uma ordem visual à qual ele se submete como um escravo ao seu senhor” (pg 82).
Assim, olhar é ação corpórea do pensamento. Quando olho, esse ver implica o pensar sobre o visto. A questão do olho de vidro é que ele é um não-ver. A imagem produzida, industrializada, pensada para atrair o olhar coletivo (sobre o termo coletivo, pretendo tratar em outro capítulo com mais cuidado), é uma imagem que se ocupa do não-ver. Na medida em que essa imagem é produzida para ser partilhada, ela oculta o que se poderia ver pela via do pensamento, já que a partilha envolve uma administração da histeria. Essa estratégia teria sido providenciada com certa colaboração da tradição do pensamento platônico que “fez do olhar algo incorpóreo”. É por meio dessa ausência de um olho no corpo pensante que a Televisão opera instalando, no buraco do rosto, um olho artificial e cego.
Na próxima postagem, mais notas de interpretação desse livro obrigatório para todos.
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